Faculdades de medicina em expansão: impactos na formação, futuro competitivo e estratégias de diferenciação

O Brasil vive um fenômeno sem precedentes na área da saúde: o boom de faculdades de medicina. Hoje, o país é o segundo no mundo em número de cursos, atrás somente da Índia, com uma expansão que, em pouco mais de duas décadas, se acelerou, impulsionada por políticas de interiorização e, sobretudo, pelo interesse de grupos privados no mercado educacional.

Mais de 80% dessas instituições são particulares, o que muda radicalmente o perfil do acesso à profissão. O ingresso já não se dá, em muitos casos, por um processo seletivo rigoroso e disputado, mas pela capacidade de pagar mensalidades altas. O risco é claro: ao priorizar a quantidade de vagas, o país pode estar formando médicos sem o preparo necessário para lidar com a complexidade da prática clínica.

Essa expansão coloca em xeque a relação entre quantidade e qualidade. O aumento de cursos e profissionais não significa, necessariamente, maior acesso a um cuidado seguro e eficiente. Pelo contrário, pode significar a formação de profissionais cada vez mais desqualificados para enfrentar os desafios da medicina contemporânea.

A expansão desenfreada das faculdades de medicina

O Brasil contabiliza hoje cerca de 390 cursos de medicina. Esse crescimento vertiginoso é um reflexo da lógica predominante: a medicina deixou de ser apenas uma formação de elite acadêmica e passou a ser um produto de mercado educacional.

A expansão não aconteceu de forma planejada ou estratégica. Em muitos casos, novas escolas surgiram sem considerar a capacidade de oferecer campos de estágio, hospitais de ensino ou estrutura mínima para a formação clínica. O ingresso, em boa parte das faculdades, depende menos da disputa intelectual e mais da condição financeira do estudante.

Esse cenário cria uma contradição central: formar mais médicos não significa formar melhores médicos. Em vez de aumentar a qualidade da assistência à saúde, o crescimento desordenado das faculdades pode resultar em profissionais inseguros, mal preparados e pressionados a competir em um mercado cada vez mais saturado.

Da teoria à prática: falhas estruturais na formação médica

O crescimento desordenado de cursos de medicina não foi acompanhado da criação de uma infraestrutura proporcional. Com isso, milhares de estudantes se formam em condições precárias de aprendizado prático, o que compromete diretamente sua formação profissional.

Falta de hospitais-escola e internatos adequados

Apesar dos 390 cursos de medicina que temos, apenas 200 hospitais de ensino são credenciados. Isso significa que mais da metade das escolas médicas (55,7%) estão localizadas em municípios sem hospital apropriado para docência. Em cidades pequenas, com até 50 mil habitantes, que receberam cursos de medicina, não há sequer hospitais de ensino disponíveis.

Insuficiência de laboratórios e equipamentos tecnológicos

Em 2023, o Cremers (Conselho Regional de Medicina do RS) interditou atividades de ensino em um hospital universitário por “superlotação nos estágios e falta de aulas básicas”. Situações como essa não são isoladas: diversos cursos enfrentam denúncias de ausência de laboratórios de simulação clínica, anatomia ou recursos tecnológicos mínimos para formar habilidades essenciais.

Sobrecarga de hospitais parceiros para estágio

Como muitas faculdades não têm hospitais próprios, recorrem a instituições públicas já saturadas pelo atendimento do SUS. Essa dependência cria disputa por espaço entre turmas de diferentes cursos, o que compromete a supervisão e a qualidade do aprendizado. Hospitais que deveriam priorizar pacientes acabam sobrecarregados com funções de ensino para as quais não têm estrutura.

Contato inadequado com pacientes e aprendizado fragmentado

Em vez de acompanharem casos clínicos completos, muitos estudantes participam apenas de atendimentos pontuais, sem continuidade no diagnóstico e no tratamento. Essa fragmentação foi alvo de denúncias que resultaram em fiscalizações e até interdições de cursos em alguns estados. O resultado é uma geração de médicos que chega ao final da graduação com lacunas em experiências que deveriam ser fundamentais para sua prática futura.

ENAMED: a régua que não resolve o problema

Como solução para a crescente preocupação com a formação médica, surgiu o ENAMED (Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica). A proposta é criar um exame anual capaz de medir o desempenho dos estudantes de medicina em todo o país, funcionando tanto como avaliação da graduação quanto como porta de entrada para a residência médica.

A ideia parece, à primeira vista, uma forma de elevar o padrão de qualidade: ao estabelecer uma régua nacional, espera-se que cursos e alunos busquem melhores resultados. No entanto, o exame esbarra em uma crítica central: medir apenas o resultado final é ignorar os problemas de origem.

O ENAMED consegue apontar falhas no aprendizado teórico, mas não soluciona a ausência de hospitais-escola, a carência de internatos ou a falta de prática supervisionada. Em outras palavras, ele avalia o estudante, mas não a precariedade do processo de formação. O risco é transformar o exame em mais um filtro seletivo, útil para ranquear candidatos, mas incapaz de corrigir o modelo que continua gerando profissionais mal preparados.

O futuro da profissão em um mercado saturado

Com centenas de faculdades despejando novos médicos todos os anos, o Brasil caminha para um cenário de concorrência sem precedentes na medicina. Nos grandes centros urbanos, onde já existe alta concentração de profissionais, a disputa por pacientes tende a se intensificar, alimentando fenômenos como a proliferação de clínicas populares e a precarização dos vínculos de trabalho.

Nesse contexto, o diploma de uma boa faculdade ou até mesmo a competência técnica de ser um excelente médico, já não é suficiente para garantir espaço no mercado. A saturação traz consigo a necessidade de diferenciação. Médicos precisarão não apenas dominar o conhecimento científico, mas também compreender como se posicionar em um mercado competitivo, como oferecer uma experiência de atendimento mais humana e como construir relações de confiança com seus pacientes.

Em outras palavras, o futuro da profissão exigirá que o médico seja, ao mesmo tempo, profissional de saúde e gestor da própria carreira. Isso significa investir em estratégias de visibilidade, reputação e tecnologia, elementos que até pouco tempo eram periféricos, mas que agora se tornam centrais para a sobrevivência no mercado.

A competição acirrada se manifesta de formas distintas para cada caminho. Para aqueles que buscam carreiras mais estruturadas, como a medicina militar (Marinha, Exército) ou cargos públicos, a saturação se traduz em processos seletivos mais disputados e maior rigor. No entanto, o impacto mais visceral e imediato recai sobre o médico que atende ou planeja atuar no mercado particular.

Este é o profissional que precisa se destacar na linha de frente da concorrência. Não basta ter a melhor formação técnica se o médico ao lado, mesmo com um histórico acadêmico similar ou até inferior, consegue atrair mais pacientes por ter uma construção de autoridade e um posicionamento de mercado mais eficaz. No atendimento particular, o paciente busca excelência clínica, mas escolhe o médico pela experiência completa que ele e sua clínica oferecem. Por isso, a diferenciação não é mais uma opção, mas a base para transformar o consultório em um empreendimento sustentável.

Transformando o consultório em negócio: A experiência do paciente como pilar da diferenciação

Num cenário onde a formação de novos médicos não para de crescer, destacar-se exige que o profissional adote uma mentalidade que transcende o cuidado clínico: a visão do consultório como um negócio estruturado. O foco deve ser na satisfação e na jornada completa do paciente, que é a maior alavanca de diferenciação competitiva.

A Experiência do Paciente, neste contexto, começa muito antes da consulta. Ela é moldada pelo seu posicionamento no mercado, o que exige um trabalho estratégico na criação de conteúdo informativo de alto valor e a estruturação de um site profissional que transmita credibilidade e facilite o primeiro contato. Investir na diferenciação e na atração qualificada de pacientes, e foi pensando nisso que surgiu o Protocolo Pareto da Healz, que garante que o profissional certo encontre a pessoa certa, reconhecendo sua autoridade.

Entretanto, toda essa atração e credibilidade são rapidamente perdidas se a experiência prática falhar. De nada adianta ter um posicionamento impecável se o paciente enfrenta demora no agendamento, desencontro de informações ou falhas na comunicação. A jornada pode ser arruinada em instantes por um atendimento inicial ou pós-consulta ineficiente. Por isso, a eficiência se torna crucial, exigindo que o médico invista em tecnologias e IA integradas que otimizem o fluxo. Secretárias virtuais com inteligência artificial, como a Carol, por exemplo, permitem que médicos e clínicas otimizem agendamentos e respondam pacientes com rapidez, mantendo a comunicação profissional sem perder o toque humano. Esse tipo de solução não apenas melhora a experiência do paciente, mas libera tempo para que o médico se concentre no que realmente importa: o cuidado clínico.

Raízes do problema e caminhos possíveis

O cenário atual da medicina brasileira mostra que a expansão desordenada dos cursos trouxe mais desafios do que soluções. A tentativa de corrigir essas falhas apenas no final da formação, por meio de avaliações nacionais, é insuficiente diante de um processo que já nasce fragilizado. A raiz do problema está na origem: na qualidade da formação oferecida, e não apenas na medição dos resultados.

Enquanto a estrutura do ensino não for fortalecida, continuaremos a conviver com um mercado saturado, repleto de profissionais disputando espaço em condições cada vez mais competitivas. Nesse ambiente, destacam-se aqueles que conseguem unir preparo clínico consistente a estratégias inteligentes de posicionamento, comunicação e tecnologia.

O desafio, portanto, é duplo: solucionar os gargalos estruturais da formação médica e, ao mesmo tempo, preparar os profissionais para navegar em um mercado em constante transformação. Apenas assim será possível evitar que a medicina brasileira se torne um campo onde quantidade suplante qualidade, em prejuízo não apenas dos médicos, mas, sobretudo, da sociedade que depende deles.

A geração do wellness e o burnout silencioso: por que a Geração Z, a mais “saudável” da história, está lotando os consultórios de especialistas

Google Ads ou Meta Ads? Onde e como o médico deve investir para captar pacientes?

Faculdades de medicina em expansão: impactos na formação, futuro competitivo e estratégias de diferenciação